[]{#Um_pouco_de_Hist_ria} Um pouco de História...

Por Lucas Rocha

A historia do surgimento do Projeto GNOME acompanha a historia dos principais ambientes gráficos para GNU/Linux e outros sistemas Unix. Até meados da década de 90, ainda existiam poucas opções de toolkits [1] para construção de interfaces gráficas para sistemas Unix. O Motif [2] , um toolkit proprietário criado pela Open Software Foundation [3] , era o toolkit mais utilizado para a criacao de interfaces gráficas em sistemas Unix comerciais tais como o HP-UX da Hewlett Packard, o Solaris da Sun Microsystems e AIX da IBM. Em virtude disso, o CDE (Common Desktop Environment)[4], ambiente desktop proprietário construído pela OSF com base no Motif, ainda era a escolha mais comum para estes sistemas.

Com o grande aumento da base de usuários do GNU/Linux em meados da decada de 90, o interesse por soluções livres e de código aberto para interfaces gráficas ganhou forca. Em 1994, surgiu o GNUstep, uma implementação livre do toolkit gráfico [OpenStep?]{.foswikiNewLink} desenvolvido pela [NeXT?]{.foswikiNewLink}[5] . O GNUstep serviu de base para o desenvolvimento de um ambiente desktop livre chamado Window Maker [6] que emula a interface gráfica do sistema operacional [NeXTSTEP?]{.foswikiNewLink} [7] também da [NeXT?]{.foswikiNewLink}. Surgiram também implementacoes livres do Motif, tais como o [LessTif?]{.foswikiNewLink} [8] , que acabaram herdando as deficiências do proprio Motif: a complexidade demasiada para o desenvolvimento de aplicações gráficas.

Neste contexto, em 1996, Matthias Ettrich, na época estudante de ciência da computação da Universidade de Tubingen na Alemanha, fundou o Projeto KDE (K Desktop Environment) com o objetivo de construir um ambiente desktop livre completo e integrado para GNU/Linux e outros sistemas Unix. Como base para o desenvolvimento do KDE, Ettrich optou pelo Qt[9] , um toolkit criado pela empresa norueguesa Trolltech[10] . Ettrich considerava o Qt tecnicamente superior em relação ao Motif e via como uma vantagem o fato do Qt ser desenvolvido por uma empresa, pois isso trazia confiabilidade e sustentabilidade ao desenvolvimento do toolkit[11]. A decisão por utilizar o Qt como base do KDE causou desconforto aos desenvolvedores do projeto GNU, pois, na época, este toolkit não utilizava uma licença de software livre[12] . E nesse contexto controverso em relação ao KDE e na ausencia de soluções alternativas totalmente livres para ambientes desktop para o GNU/Linux, que o projeto GNOME surgiu.

Em 1997, inspirado pela experiência positiva de desenvolvimento baseado em componentes junto a Microsoft[13], Miguel de Icaza, um hacker mexicano, começou, juntamente com Federico Mena Quintero a desenvolver uma arquitetura de componentes gráficos para sistemas Unix chamada Bonobo. Nessa época, Icaza ainda considerou a possibilidade de trabalhar em conjunto com os projetos existentes voltados para o mesmo fim, tais como o KDE (Qt), GNUstep, Wine e [LessTif?]{.foswikiNewLink}. No entanto, as restrições de licenciamento do Qt e o falta de avanços consideráveis no GNUstep[14], Wine e [LessTif?]{.foswikiNewLink} o fizeram decidir por iniciar um novo projeto.

O Projeto GNOME foi fundado em agosto de 1997 como parte do projeto GNU. Um anuncio oficial[15] foi enviado por Icaza para as listas de discussão dos principais projetos de software livre da época tais como Debian, Gimp e KDE. O toolkit escolhido foi o GTK (The Gimp Toolkit) que já estava sendo utilizado para o desenvolvimento de um editor de imagem livre chamado Gimp (GNU Image Manipulation Program). Em novembro de 1997, o GNOME já havia atrasado atenção de diversos desenvolvedores na rede e por conta disso, Icaza, Quintero e outros hackers passaram a se dedicar totalmente ao GNOME. Ainda em dezembro de 1997, ocorreu lançamento publico da primeira versão do GNOME, a versão 0.10.

A partir de 1998, diversas empresas começaram a investir no GNOME tendo em vista que a existência de um ambiente desktop que facilitasse o uso de sistemas Unix e requisito basico para criar uma alternativa viável em relação aos sistemas operacionais da Microsoft e Apple (DANIEL, 2002). No final de 1997, a Red Hat, empresa de desenvolvimento de uma distribuicao[16] GNU/Linux, anunciou oficialmente o apoio ao projeto. Assim, em jáneiro de 1998, foi criado o Red Hat Advanced Development Labs (RHAD)[17] com diversos hackers, que atualmente cumprem papel importante no GNOME, tais como Owen Taylor, Federico Quintero e Jonathan Blanford sendo contratados para se dedicarem exclusivamente ao desenvolvimento do GNOME. No RHAD, diversos componentes importantes do ambiente foram desenvolvidos no mesmo ano. No final de 1999, já existiam mais duas empresa dedicadas ao desenvolvimento e prestação de serviços baseados no GNOME. A Eazel[18] desenvolveu um gerenciador de arquivos chamado Nautilus[19], que hoje e componente oficial do ambiente desktop GNOME; e a Ximian[20] se concentrou no desenvolvimento de versões adaptadas do ambiente GNOME para usuários corporativos e uma ferramenta integrada de calendário, e-mail e contatos chamada Evolution[21].

Em 2000, em resposta ao grande crescimento - em numero de colaboradores e softwares desenvolvidos - e o aumento do interesse de grandes empresas de tecnologia no projeto, os desenvolvedores do GNOME decidiram criar uma Fundação, a GNOME Foundation[22], com o objetivo de garantir que o projeto estejá sempre caminhando na direção de suas metas fundamentais. Para tanto, a Fundação e responsável por definir as metas gerais do projeto, organizar o processo de desenvolvimento, ser porta-voz do projeto para a imprensa e interface institucional para outras organizações. A GNOME Foundation e composta por todos os colaboradores efetivos do GNOME e e dirigida por um quadro de sete diretores (Board of Directors) que são eleitos anualmente por votação direta dos membros. Além disso, a Fundação conta com um quadro de organizações parceiras (Advisory Board ) que e composta por empresas e organizações sem fins lucrativos que apóiam o projeto. As organizações que compõem o Advisory Board não tem nenhum poder deliberativo dentro da Fundação e cumprem apenas o papel de conselheiros, apresentando suas expectativas em relação ao projeto. Essas empresas devem pagar uma taxa de manutencao anual a Fundação para fazerem parte deste quadro. Atualmente, o Advisory Board e composto pela Access, Canonical, OLPC, Hewlett Packard, Debian, Free Software Foundation, IBM, Intel, Imendio, Nokia, Novell, Opened Hand, Red Hat, Igalia, Software Freedom Law Center e Sun Microsystems.

Ainda em 2000, a Sun Microsystems decidiu utilizar o GNOME como ambiente desktop padrão do seu sistema operacional Solaris em substituição ao CDE[23] . Ainda no mesmo ano, a Sun criou o Sun GNOME Accessibility Development Lab[24] com o objetivo de trabalhar em conjunto com o Projeto GNOME no desenvolvimento de tecnologias que permitam a utilização de computadores com sistemas Unix por pessoas com algum tipo de deficiência. Em novembro de 2003, a Novell anunciou a aquisição da Ximian e optou pelo GNOME como ambiente desktop oficial de seus produtos baseados no GNU/Linux[25]. A partir 2004, a Nokia começou a investir em tres empresas de menor porte, Opened Hand, Imendio e Fluendo para o desenvolvimento de tecnologias para dispositivos moveis baseados em GNOME e GNU/Linux para serem utilizadas em seus produtos. A Opened Hand[26] desenvolve softwares para GNU/Linux em dispositivos moveis. A Imendio[27] e focada no desenvolvimento de diversos aplicativos e tecnologias de base para o GNOME. A Fluendo[28] trabalha no desenvolvimento de uma plataforma multimídia para sistemas Unix que e utilizada pelo GNOME chamada GStreamer. Todas essas empresas investem de forma direta ou indireta no GNOME de forma a garantir a evolução e sustentabilidade do projeto.